segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Momento Econômico / Folha do Sul - 13.Outubro.2014



Momento Econômico

Brasil, início dos anos 70 do século passado, a vitória dos movimento tenentista de raízes pré-getulistas era atestada pelo controle total do estado pelos militares que, com a desculpa de livrarem o pais do perigo comunista, tinham dado um golpe ilegal dez anos antes, quebrando os poderes de base democrática legalmente constituídos. Uma noite negra e tenebrosa que exatamente naquele início de década (1970-1973) teve o seu momento maior. A imprensa amordaçada, a oposição exilada, na prisão e em alguns casos assassinada, um Congresso incapaz de esboçar a menor reação e assim por diante. Com a vitória na Copa do Mundo no México, éramos o pais do futuro. “A copa do mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa” era a marchinha oficial, repetida até a exaustão. Nada podia ser contestado com o perigo de se ouvir: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Na economia vivíamos um momento de pujança. Taxas de crescimento eram as maiores do mundo. O todo poderoso czar das finanças era um cavalheiro de nome Delfim Neto, alçado ao posto pelos militares após os ajustes feitos na economia pelo seu antecessor, senhor Roberto Campos. Campos, que era chamado sarcasticamente de Bob Fields pela oposição no exílio, havia feito correções que no final aparentemente lhe causaram grande desgaste e a troca pelo senhor Neto.
Mas o Brasil continuava com muita pobreza, grandes obras eram tocadas sem garantias que elas seriam terminadas, etc. Quando aos poucos o pais foi acordando do pesadelo, se viu que a pobreza era endêmica e que muitas daquelas obras faraônicas jamais seriam terminadas e assim por diante. Se alguém duvidar disto, basta lembrar a “ferrovia do aço”, obra nunca terminada e sucateada. Bilhões foram enterrados Brasil afora e a dívida, externa e interna, do pais foi às alturas. Com os protestos nas ruas no final dos anos 70, a volta da democracia no início da década de 80 foi inevitável. Com a crise econômica, seguiram-se planos econômicos dos sucessivos governos, desta vez democráticos, em que o pais parecia se erguer para cair de novo, desfalecido pela inflação galopante que insistia em aumentar, cobrando principalmente dos pobres e menos favorecidos um alto preço. Finalmente se conseguiu estabilidade com o plano real e a lei da responsabilidade fiscal em meados dos anos 90.
Os anos passaram, e o grande paradoxo que vivemos nos dias atuais é que se na ditadura tínhamos um grande crescimento, a distribuição de renda era o grande calcanhar de Aquiles do sistema econômico e social. O czar Delfim Neto dizia que “era necessário deixar o bolo crescer para depois reparti-lo”. Ultimamente temos vivido o contrario, crescimento pequeno e uma melhor distribuição de renda. A verdade é que “o bolo parou de crescer e estamos ocupados em reparti-lo”, de um jeito ou de outro. Talvez o nosso sangue latino, sempre mais emotivo que de outros povos, para bem ou para mal, não nos deixe parar no meio do caminho, ou seja, crescimento com divisão de renda. Não se pode negar que nos últimos anos crescemos menos, as vezes bem menos, que o resto do mundo. Este ano talvez iremos até mesmo encolher se não houver uma reação até dezembro.
No final da ditadura, os grandes problemas foram a balança de pagamentos e a balança comercial, sempre deficitárias, com o aumento subsequente do endividamento externo e interno. A desvalorização da moeda nacional foi inevitável, seguindo-se recessão, desemprego, inflação, etc. Pragas econômicas que estiveram presentes por mais de uma década até a estabilização do Plano Real. O paralelo histórico, pelo menos no que diz respeito às trocas comerciais atuais com os outros paises, é enorme. Foi divulgado na imprensa que o saldo na balança de pagamentos seria, até setembro deste ano, negativo em mais de cinquenta bilhões de dólares, para reservas de cerca de trezentos bilhões (e portanto rapidamente exauríveis). A desvalorização da moeda é desta forma inevitável, assim como o foi na época dos militares, com as consequências também inevitáveis. Não é por acaso que ambos os candidatos na disputa presidencial, situação e oposição, tem colocado de forma enfática que mudanças e ajustes no rumo da economia serão necessários.

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